O uso de medicação no desporto é prática corrente com 3 fins – terapêutico, recreacional/social e melhoria da performance. Dentro das várias Classes de fármacos aquela mais frequentemente utilizada é a dos Anti-inflamatórios não esteróides (AINE) com frequências de consumo de 50% entre os atletas.
Num estudo retrospectivo acerca do uso de medicação no Mundial de Futebol da Rússia em 2018, foi reportado que 1 em cada 4 atleta ingeriu AINE nas 2 horas que antecedeu cada jogo, maioritariamente como estratégia profilática. Este consumo exagerado tem sido, cada vez mais, motivo de preocupação na comunidade Médica e não só, pelos efeitos secundários importantes (eventos cardiovasculares, gastrointestinais e renais) que esta medicação pode provocar a curto, médio e longo prazo.
Apesar dos muitos estudos acerca da sua utilização nos mais variados tipos de lesão, ainda se verifica (incompreensivelmente) uma prescrição terapêutica, e mesmo profilática, exagerada e que urge travar.
Assim, em termos de utilização dos AINE´s (por via oral ou intramuscular) sabe-se hoje que é contraproducente o seu uso em lesões musculares, tendinosas, ligamentares e ósseas, já que prejudica o “outcome” final e promove uma cicatrização anómala com os riscos associados inerentes em termos de taxa de recidiva, bem como de efeitos laterais sistémicos já referidos. Relativamente ao uso tópico há a vantagem de ter efeitos sistémicos praticamente nulos com a eficácia local dependendo da profundidade da lesão, sendo que a utilização profilática pelos motivos óbvios também não é aconselhável.Nos últimos anos tem sido estudada a utilização dos AINE´s no desporto em relação à sua implicação na Performance e nas adaptações ao treino concluindo-se que é prejudicial o seu uso para as adaptações agudas e crónicas ao exercício.
Apesar de tudo, considera-se que os AINE´s possam ter indicação nas seguintes condições musculosqueléticas:
Síndromes de Impingment de tecidos moles, tenosssinovites agudas e artropatias inflamatórias (com o seu uso limitado a 3-4 dias)
Portanto, em relação à questão: “O uso de Anti-inflamatórios no Desporto – Amigo ou inimigo?”, consideramos que a resposta mais adequada será: Amigo da Onça…
Nota: Este artigo é somente um artigo de opinião que se baseia na mais atual evidência científica e na experiência do autor na prática de Medicina Desportiva no acompanhamento de atletas de alta competição ao mais alto nível nos últimos anos.